quinta-feira, 27 de março de 2008

Fora as descrições...

Acho que já posso dispensar um pouco as criteriosas descrições das minhas atividades para, enfim, poder escrever um pouco mais sobre as impressões que ando tendo sobre o ensino da Educação Física, tal qual ele se apresenta pra mim, nas escolas onde estou, partindo daquilo que eu penso e vejo.

Tenho tentado mostrar e fazer com que os alunos entendam que a disciplina não é um mero momento de algazarra entre os conteúdos "sérios" da escola. Já consegui transformar em muitos a idéia de apenar sair da sala, receber bolas e fazer o que mais gostar (na maioria dos casos, o glorioso futebol, que eu mesmo adoro... mea culpa), pois a Educação Física, assim como todas as outras disciplinas precisa sempre possibilitar aos educandos novas experiências, que desafiem o que ele já possui e forneçam subsídios que os tornem capazes de ir além do que eram antes de vencer o problema. Este tem sido meu principal objetivo, exigir sempre um pouco mais do que sei que eles já têm, mas que podem alcançar através do entendimento, da vivência e da reflexão.

As dificuldades existem. E são grandes. Uma escola grande, que precisa de uma organização, mesmo que isso signifique abdicar de tempo adequado para utilizar o espaço externo. Tenho aceitado o desafio de trabalhar os mesmos conteúdos fora e dentro da sala, quando necessário, e tem sido motivador para mim, e percebo que os alunos também se envolvem, mesmo desanimados com a privação espacial a que são submetidos durante as 4h de aula.A capacidade de saber ouvir e falar na hora certa é algo que, aos poucos, vejo que muitos já estão adquirindo, percebendo a importância do diálogo e dos questionamentos que surgem através dos colegas, daí a necessidade estar em silêncio momentaneamente para poder compreender aquilo que é sugerido/questionado/apontado. Na sala, isso tem sido marcante e tem me deixado muito feliz. Sou muito conservador mesmo e entendo que o silêncio é fundamental no ambiente de aprendizado, pois leva à concentração e à reflexão, porém não vejo isso ser prejudicial, afinal, por mais que sôe de acordo com o que se propaga todo o tempo, ao almejar degraus mais altos, dificilmente eles poderão sempre fazer o que quiser, sendo necessário reconhecer o momento de parar e respirar um pouco!

O primeiro contato com as turmas de treinamento, um público mais velho, mostrou um potencial de trabalho muito grande!! Já encontrei reproduções de uma lógica natural a quem está em contato com o esporte competitivo midiático: "Professor, quem ganha, fica!". Tratei da importância do momento do jogo coletivo formal como sendo fundamental na aplicação do que aprendermos durante os exercícios e de momento de compartilhamento de diferentes modos de jogar, já que mesmo que o objetivo ainda seja superar o adversário, este é o colega de equipe e ainda é a sessão de treino, ressaltando que o momento de buscar a vitória pelo título será outro. Aliás, muito breve, pois na quarta que vem já estarei levando os meninos da categoria Infantil para as disputas da fase municipal da Olimpíada Colegial...

Alguns pontos que achei importante abordar. Mais que comentários, peço humildemente que me questionem, me critiquem e me façam pensar também, o objetivo destes relatos é oferecer um espaço de debate da Educação Física Escolar. Abraços a todos!

sábado, 15 de março de 2008

Fazendo direito... e com a canhota!

Da mesma forma como essa semana passou rapidamente, ela também foi muito gostosa durante as aulas porque estou conseguindo que os alunos estejam a grande parte do tempo "ligados" no que estamos fazendo.

Da série "Conhecendo o movimento", falei um pouco sobre lateralidade para eles, tanto as segundas como as quartas séries. As aulas de segunda-feira foram mais um momento de avaliação do quanto eles estavam dispostos a se organizar, com uma "Festa na Fazenda" (quatro cantos, quatro tipos de bixo e diferentes modos de locomoção, buscando fugir do caçador ao centro). Na quarta, iniciei do ponto que eles estavam. O "diagnóstico" era pedir para que todos levantassem a mão direita, quando observei que a maioria não tinha adquirido noções de lateralidade ainda. Então trabalhei com atividades que os estimulasse para apreender algo sobre.

Começando com os alongamentos habituais (tem funcionado sempre, principalmente fazendo de uma maneira mais divertida, com sons e posições que eles não estão acostumados), contei sobre o que faríamos, começando com uma divisão de grupos geita por mim. Após os protestos naturais, expliquei que os grupos mudariam conforme eu pedisse esta ou aquela característica comum entre os componentes. O funcionamento: de frente para os alunos, dizer "Quero que todos os alunos usando calça fiquem do meu lado DIREITO!!" Rapidamente, eles tinham de formar uma fila lado a lado, os que se encaixavam no grupo, à direita, o restante, à ESQUERDA. E seguiu assim, com muitas divisões e se mostrou bastante motivador, inclusive com os maiores, que lamentaram quando pedi que se reunissem novamente para eu passar ao próximo jogo.

A seqüência trabalhou aspectos de lateralidade também, associados a algo de atenção e percepção dos sentidos. De frente para as turmas, eu explicava que usaria meu apito para controlar os movimentos. Com um apito, deveriam se deslocar um passo para a direita. Com dois apitos, um passo à esquerda (o apito, no caso, pode ser substituído por palmas ou outro estímulo sonoro). Como eu estava de frente para eles, várias vezes eu apitava para que fossem para a direita e ia para a minha direita, que era a esquerda deles, perguntando se aquele era o lado correto de acordo com o número de apitos que eu havia usado. As inversões de seqüência também funcionaram muito bem para motivá-los.

Ao final, os reuni novamente em círculo e conversei se haviam gostado da atividade, explicando que ainda trabalharíamos mais a lateralidade. Como última atividade, pedi novamente que eles levantassem o braço direito e percebi que o número de acertos foi muito maior, comprovando que o objetivo, embora não alcançado totalmente, já estava fazendo sentido.

Somente a 2ªH foi tão difícil que precisei trabalhar em sala. Propus uma cruzadinha na lousa e alertei que enquanto não concluirmos todas as palavras (o que requer mais atenção, participação e concentração de todos), não voltaremos à quadra/pátio. Não houve resultado e espero que eles sintam que, da maneira que anda acontecendo, não teremos como continuar saindo da sala.

O detalhe positivo fica para a aula com a 4ªJ, pois mesmo com a aula segmentada (20 min, intervalo de 15 min, mais 30 min de aula em sala), consegui trabalhar uma das atividades na quadra antes do recreio e incluir um trabalho na lousa de orientação espacial, desenhando um mapa da classe na lousa e pedindo que eles me ajudassem a localizar colegas e objetos, dizendo se a fileira estava á esquerda/direita e em qual carteira. Muito produtivo!

Na sexta, minha primeira reunião na Diretoria de Ensino, em razão das turmas de ACD. As Olimpíadas Colegiais começam já em abril para a categoria Infantil (até 16 anos). Trabalharei com Tênis de Mesa e Futsal Masculinos e o tempo urge!!!

Obrigado a todos pelas visitas e espero que continuem passando por aqui para dar os seus pitacos. Abraços especiais!

segunda-feira, 10 de março de 2008

Reconhecimento de campo

Saudações. Uma semana atribulada, sem ser tão cansativa.

Com as aulas na Unicamp retornando, o meu tempo vai se tornar um pouco mais escasso, embora duas disciplinas não sejam uma carga assim tão expressiva, penso eu. Nas escolas, eu busquei continuar oferecendo experiências de conhecimento do movimento em todas as turmas, tanto para saber o que eles já conhecem/fazem/gostam como para ir introduzindo a idéia de uma Educação Física como área de estudo diferenciada. Os resultados gerais têm sido ótimos. No geral...

O mês de março foi o pontapé inicial para entrar de cabeça no planejamento das aulas e das turmas de treinamento (essas ainda inativas, pretendo resolver tudo até quarta-feira para começar na próxima semana). A segunda-feira com as segundas séries do Celeste foi bem tranqüila, todos pareceram gostar das aulas, com os mesmos insistindo em não querer participar ou estarem sem vontade. Apliquei as mesmas atividades de sexta-feira e funcionou muito bem, inclusive o "Siga o mestre", de muita criatividade.

Na quarta, mais dificuldade. Organizei uma atividade para verificar como andava a lateralidade das turmas: um circuito de "trânsito" desenhado com giz. As crianças se agruparam em trios enfileirados e eram os "carros", sendo que o aluno do meio dirigiu o primeiro com toques nas costas. Apesar da desorganização inicial, a turma se entendeu e o exercício final, o qual apelidei de "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço" fez bastante sucesso. Nota para a dificuldade que eles ainda apresentam em se organizar para ouvir e conversar sobre a aula, levamos 10 minutos para conseguir sentar em círculo. Na 2ªH foi quase impossível aplicar as atividades, eles se mostravam muito agitados, o que me levou inclusive a prometer deixá-los em sala na próxima aula.

As turmas de 4ª séries se mostraram mais receptivas aos exercícios do que eu imaginei, já que adaptei os mesmos exercícios das turmas menores, agora pensando mais na questão do corpo em movimento e suas variações. A turma mais problemática (não sei se posso chamá-la assim, pois são aquelas 3 ou 4 lideranças negativas que atrapalham o andamento da aula) foi uma das mais interessadas durante toda a aula, talvez pela ausência de alguns dos alunos mais velhos. Me esqueci do intervalo das quintas séries na segunda aula (sim, a escola tem mais de um intervalo por período, são 16 salas e uma média de 600 alunos no pátio não seria recomendável) e perdi 30 minutos tentando inutilmente introduzir a atividade, no fim, eles foram participativos. A última aula de quarta-feira foi das mais produtivas em termos de contribuição e participação dos alunos. Não usei a atividade do "carro", mas a idéia inicial da travessia em apoios por grupo - por favor, peço sugestões melhores para nomear essa atividade: os alunos divididos em grupos de 3 ou 4 devem cumprir a tarefa de atravessar o espaço determinado utilizando somente o número de apoios solicitado pelo professor, tentando sempre inovar frente ao que os outros grupos executam. Muita criatividade. O "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço" também foi muito bom. A sexta-feira foi um dia complicado, em resumo: travessias em diferentes maneiras de locomoção e um pega-caranguejo no final. Só não foi realizado na 4ªI, pois tive um problema sério com três alunos, inclusive levando-os à diretoria. Não foi legal, não gosto de recorrer à última instância, mas não houve outro jeito. Estes ficam sem Educação Física até abril.

Pouco a pouco, tenho conseguido ir moldando o formato de aula que pretendo conduzir. A insegurança ainda existe, e em grande parte dos momentos, mas tenho me esmerado em melhorar de acordo com o que tenho visto, percebido e identificado. Uma boa semana e até breve!

Notas da semana:

domingo, 2 de março de 2008

Segue o jogo!!

A segunda semana foi de trabalhos incessantes, com o resultado de uma leve rouquidão no fim da tarde de sexta-feira, devidamente tratada.

Como continuei nas salas de aula com as turmas no Celeste, programei uma discussão de conteúdos para as quartas séries e um jogo da memória diferente para as segundas séries.

As segundas séries do Celeste até assimilaram bem a atividade, que consistiu em dividí-los em duplas para combinar um gesto/movimento comum para o par, sendo que o(s) aluno(s) escolhido(s) deveria(m) se ausentar da sala e retornar para tentar formar os pares, após eles se misturarem. Propus um formato cooperativo, onde a dupla jogava junto e tentava adivinhar um número determinado de pares antes de ser escolhida outra dupla. A maioria só lembrou de movimentos esportivos, mas houve algumas manifestações gestuais interessantes por parte de alguns. Expliquei a variabilidade de movimentos observados e relembrei as conversas anteriores sobre os aspectos do movimento. A outra aula da semana não ocorreu porque foi marcada a primeira reunião de pais. Registre-se que eu não sabia...

Como previ, foi um pouco difícil conter a euforia das quartas em ficar mais uma semana dentro de sala, no entanto consegui a atenção da maioria, participando e opinando sobre o que veríamos durante o ano. Dividi os conteúdos com eles em quatro blocos (essa divisão é semelhante para as outras séries, contudo a divisão feita é uma linha mais tênue e os conteúdos esportivos não têm uma representatividade significativa, sendo tratados de forma conjunta nos jogos de habilidade):

1° BIMESTRE: Conhecendo o movimento corporal

2° BIMESTRE: Jogos

3° BIMESTRE:
Saúde e atividade física

4° BIMESTRE:
Introdução aos esportes

Perguntei o que conheciam sobre cada item, pedi definições, dei alguns exemplos, pedi sugestões, foi produtivo, apesar de lidar com a falta de atenção da maioria das crianças. No fim da aula, após realizar o alongamento (que já foi incorporado, sendo pedido por eles em todas as aulas, deu muito certo!), fiz uma breve brincadeira de "forca" na lousa, fechando a discussão com o acerto da palavra LÚDICO, quando expliquei o que significava e que seria a nossa ferramenta durante o ano letivo. Outro registro muito interessante foi a discussão de gênero que surgiu em duas das três salas quando tratamos de dança, amarelinha e outras brincadeiras, parece ter sido bem assimilada pelos meninos, que enxergam mais problemas nessas situações que as meninas.

Na segunda aula da semana, fiz uma estafeta disfarçada, onde não havia vencedores ou perdedores, o objetivo era escrever no quadro atividades/movimentos que utilizassem determinadas partes do corpo - pernas, braços, cabeça, tronco, quadril e corpo todo - de acordo com a maneira de agrupamento (por fileiras, na maior parte dos casos). A intenção era salientar como na maior parte das atividades o corpo todo está envolvido no movimento e definir conceitos de movimento global e segmentar. O objetivo aparentou ter sido cumprido perante as turmas.

No Pacheco, tentei aplicar um jogo da velha semelhante ao jogo da memória já realizado na outra escola, sem sucesso, mais por culpa minha do que dos alunos, uma vez que a atividade no formato apresentado tornou-se extremamente desmotivadora. Então, contornei o problema sugerindo diferentes tipos de "pega" que explorassem situações motoras específicas (pega alto, pega baixo, pega corrente, pega americano, pega gelo), reunindo-os ao final para discutir como eles usaram o corpo em cada atividade.

No dia seguinte, eu queria continuar o trabalho de percepção do próprio corpo, o corpo do colega e os movimentos possíveis. Dividindo a turma em duplas, propus uma atividade de espelho, em que as duplas alternaram-se em imitar exatamento o que o parceiro fazia. Na seqüência, a atividade "marionete", com as duplas novamente, onde os parceiros alternaram-se nos papéis de boneco e dono do boneco, que deveria movimentar o primeiro por meio de fios imaginários presos ás articulações, eles gostaram bastante! No final, o tradicional "siga o mestre" foi de fácil aceitação entre todos, com excecção de pouquíssimos alunos. Com estes, conversei no final da aula explicando a importância de manterem-se junto ao resto da turma para aproveitarem as aulas e ouvir, porque senão a alternativa era ficarem na sala de aula, já que estavam correndo pela quadra e fora dela, correndo o risco de se machucar.

Frutos da melhor qualidade nessa semana!!! Fiquei otimista com relação ao prosseguimento do curso, com todos os alunos. A próxima semana já promete ser melhor ainda. Abraços aos leitores.
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